Homem com falta de ar morre na UPA da Sacramenta e prefeitura descarta covid-19

Ainda não há como saber se morte foi pela doença. Pacientes ficaram assustados. Após longa espera no chão e do lado de fora, foi atendido, mas não resistiu.
Fábio Costa / O Liberal
Somente as sandálias do homem ficaram para trás, após ser levado às pressas para dentro da UPA da Sacramenta. No entanto, ele aguardou muito tempo, sentado no chão, do lado de fora, até ser atendido. (Fábio Costa / O Liberal)

Um homem morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Sacramenta, em Belém, na manhã desta quarta-feira (22). Ele havia chegado reclamando de falta de ar, um sintoma muito característico de covid-19, a doença causada pelo coronavírus sars-cov-2. Sentou-se à calçada, na porta da unidade e acabou desmaiando antes de ser atendido. Testemunhas dizem que ele passou algum tempo esperando para ser chamado, enquanto a irmã dele, que o acompanhava, fazia de tudo para que ele fosse atendido o quanto antes. Não resistiu muito.

Após algum tempo sentado na calçada, trabalhadores da UPA o levaram para dentro às pressas. Para trás, ficaram apenas as sandálias do paciente. O homem ainda estava vivo, como apontam alguns relatos informais colhidos pela Redação Integrada de O Liberal. A Prefeitura de Belém contesta e diz que nem deu entrada. Minutos depois, a irmã que o acompanhava saiu chorando de dentro da unidade.

Por enquanto, não há confirmação de outros possíveis sintomas de covid-19, além da falta de ar. Em um vídeo que circula pelas redes sociais digitais, que mostra o homem na porta da UPA, uma mulher chora e diz "Ontem foi a mesma coisa no pronto-socorro".

Prefeitura descarta covid-19, mas laudo cita falta de ar 



Em nota, a Prefeitura de Belém informou que a "...Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) lamenta o ocorrido e explica que o usuário não chegou a dar entrada na Unidade de Pronto Atendimento da Sacramenta. Ele e a irmã chegaram ao local por volta das 6h30 desta quarta-feira (22), em um veículo de aplicativo, e foram andando até a porta de atendimento. A mulher entrou para buscar uma cadeira de rodas e, quando voltou, encontrou o homem sentado no chão, sem sinais vitais. A acompanhante está sendo amparada pelo serviço de assistência social da UPA e relatou que o mesmo tinha doença infectocontagiosa e não estava fazendo uso da medicação, tinha hipertensão não tratada e fazia uso de bebidas alcoólicas. O corpo será encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbito para investigação. Já foi descartada a covid-19".

No entanto, o descarte da hipótese de covid-19, explicou a assessoria de imprensa da Sesma, se deu por falta de sintomas relatados pela irmã do paciente ao médico que o atendeu. Apesar de relatos apontarem a falta de ar como sintoma que vinha sendo declarado pela irmã do paciente, o órgão informou que essa informação não foi repassada ao médico que a atendeu. E há questões sociais e patologias que não podem ser divulgadas sem a autorização da família. A detecção do coronavírus no corpo do homem ficará a cargo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), que é vinculado à Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Pelo atestado de óbito, apresentado pela família à Redação Integrada de O Liberal, a causa da morte foi um choque séptico, uma condição que se dá por uma infecção grave (viral ou bacteriana) em todo o organismo do paciente. Isso leva a diversas situações de risco, como a que vitimou o homem: ele teve uma parada cardiorrespiratória por conta desse choque séptico. Isso contradiz a Sesma sobre o sintoma da falta de ar. O homem vivia com HIV. Não havia menções a covid-19 no laudo apresentado. Nem se outras infecções oportunistas podem tê-lo vitimado.
A UPA da Sacramenta foi uma das primeiras a chegar ao limite da capacidade de atendimento. Independente de o paciente ter morrido ou não por covid-19, a espera por atendimento é un reflexo desse esgotamento. Essa também foi primeira unidade onde trabalhadores paralisaram as atividades para cobrar equipamentos de proteção individual (EPIs). Era onde estava lotado o maqueiro Bruno Campello, um dos profissionais da saúde de Belém a morrer por covid-19 em Belém. O trabalhador morreu no sábado (18).
Fonte: O Liberal em 22/04/2020 as 11h14.

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