Familiares reclamam da falta de informações sobre pacientes em hospital de campanha

Segundo relatos, uma vítima morreu no sábado e família só foi informada nesta segunda-feira (27)
Igor Mota/O Liberal


À medida que os casos e as mortes pela covid-19 avançam no Estado do Pará, em especial em Belém, aumentam, também, os relatos dramáticos de familiares de pacientes. E, na manhã desta segunda-feira (27), muitas pessoas faziam fila para ter acesso ao hospital de campanha montado no Hangar. Querem ter notícias de seus familiares. Dizem que passaram o final de semana sem nada saber sobre seus parentes. E a angústia é cada vez maior.
José Quelho de Souza, de 65 anos, estava internado no hospital de campanha montado no Hangar. Ele faleceu neste sábado (25). Filha dele, Marcelia Sousa relatou, na manhã desta segunda-feira (27), o sofrimento da família. “Meu pai deu entrada no Hangar segunda-feira (da semana passada) à noite, mas só foi medicado na quarta-feira, também à noite. Infelizmente, o meu pai veio a óbito. Morreu de sexta para sábado. E o Hangar só me avisaria na segunda-feira (hoje). Eu só soube porque tínhamos uma conhecida lá dentro que servia refeição para o meu pai. E, quando essa pessoa foi procurar ele, ele não tava mais (no leito). Estamos tristes e revoltados com a falta de respeito deles para com os familiares que estão ali dentro”, afirmou.
“Soubemos no domingo (26) já, por causa da pessoa conhecida. E, até o momento, ninguém me ligou. Hoje já é segunda-feira (27). Sábado e domingo não há assistente social lá. O paciente faleceu na madrugada do sábado. E eles não falaram nada. E são inúmeros os casos que a gente está escutando pela falta de assistente social. Só iríamos saber hoje (segunda-feira)”.
"Você não sabe nada do seu paciente", diz advogada
“É cruel o que fazem com as famílias”. O relato é da advogada Karla Martins, de 39 anos. O marido dela, Márcio Anderson Pantoja dos Remédios, está há seis dias no hospital de campanha do Hangar. Foi internado, em estado grave, dia 21 de abril, às 19 horas. “Desde então, a gente vem passando por uma verdadeira peregrinação”, disse. Ela afirmou que o Hangar não tem boletim médico para informar sobre o estado de saúde dos pacientes.
“Você, primeiramente, tem acolhimento com assistente social. Não há boletim médico. Você não sabe qual a conduta clínica e quais procedimentos técnicos estão sendo estabelecidos. O que você tem é um acolhimento com a assistente social e, assim, você vai descobrir talvez o leito do paciente. E, mediante pegar o nome do paciente, vão até o leito e retornam com alguma novidade. Porém, não dá para confiar no que eles trazem pra gente. Assistente social não tem olhar técnico.  Ele faz parte de uma equipe multidisciplinar, porém não tenho como saber a real situação daquele paciente. E eu venho indagando e exigindo com que as notícias sejam verídicas”, afirmou Karla Martins. “Vou para o Hangar às 8, 9 horas para entrar na fila. E saio de lá 8 da noite. Então, é muito exaustivo. É uma inconstância. Você não sabe nada do seu paciente”, contou.
“Os remédios que até então a gente sabe que eles (pacientes) estão tomando são os remédios que as famílias levam, de pacientes que já fazem tratamento contínuo - pressão, diabetes, algum tipo de doença preexistente”, contou.
Falta informação verídica, afirma familiar
Outra coisa que chamou a atenção da advogada é um telefone público que existe dentro do Hangar. “Alguns pacientes que estão na parte de enfermaria, e que conseguem se locomover, ligam para as suas famílias e vão se comunicando. Sábado e domingo não há notícias sobre os pacientes. São dois dias angustiantes. Você fica literalmente sem saber do seu paciente. Você quer saber o que está ocorrendo. É extremamente angustiante. Eu consegui falar com meu esposo. Ele me relatou que estava sem remédio, não tinha sido assistido até então. Fica uma inconstância. Hoje eu já sei que meu marido foi transferido da UTI para a enfermaria, que está extremamente lotada. Mas não sei a evolução (do quadro clínico). Se ele é positivo para covid. O exame, que ele fez antes na UPA, é sugestivo para covid, pela grande evolução que teve no pulmão dele”.
Ainda segundo Karla Martins, o “hospital de campanha não estabelece essa forma objetiva de você saber o que está acontecendo. É extremamente angustiante. Para a minha e para as outras famílias também. Por isso, formalizamos denúncia no Ministério Público do Estado, para ser forçado eles fazerem esse esclarecimento. Você está nesse momento catastrófico e ainda tem que lidar com a falta de informação”.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública  (Sespa), respondeu que existem hoje 6 assistentes sociais prestando atendimento às famílias no Hospital de Campanha do Hangar. E que as visitas virtuais, "que iniciaram nesta segunda (27), são feitas por chamada de vídeo. O familiar será agendado e acolhido pelo serviço social para poder realizar a chamada com o seu parente. A Sespa esclarece ainda que as chamadas serão feitas de segunda a sexta-feira e o boletim médico será passado pelo médico plantonista diariamente a partir das 14h."

Fonte: O Liberal em 27/04/2020 as 17h46

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