Plebiscito: desafio de eliminar as rivalidades.


Após três meses de campanha - em alguns momentos, acirrada - chegará ao fim, amanhã, o processo de consulta popular que dirá se os eleitores paraenses querem mudanças no futuro mapa do Estado, com a criação dos Estados de Carajás e do Tapajós, ou se desejam que a região continue formando uma única unidade federativa.

Independente do resultado, a grande preocupação de autoridades e estudiosos é com o chamado dia seguinte. Como eliminar as rivalidades entre capital e interior potencializadas pelo período em que a separação das regiões oeste e sul/sudeste estiveram oficialmente na agenda? O assunto há muito é tema das conversas do governador do Pará, Simão Jatene, com auxiliares próximos e com os políticos da base.

“Seja qual for o resultado, o que espero é que nós saiamos todos mais maduros. O Pará tem uma condição ímpar de construir um esforço de refundação”, disse o governador, que já iniciou uma agenda de visitas a instituições que possam contribuir para amenizar eventuais problemas do pós-plebiscito. Entre os órgãos já visitados, está o grupo RBA. Jatene, na tarde de ontem, foi recebido pelo diretor-presidente do DIÁRIO, Jader Barbalho Filho, e pelo diretor-geral da RBA, Camilo Centeno.

“Nós temos que entender que seja qual for o resultado, haverá um momento de luto de um dos lados e que isso não se transforme no fim do mundo para ninguém. Pelo contrário. Que possa se transformar numa experiência de um novo mundo. Não dá para negar que existem sentimentos e interesses legítimos nas duas decisões. Não se pode dizer que um homem simples que decida votar assim ou assado não esteja buscando o que acha que é o melhor para ele. Esse sentimento precisa ser respeitado. Acho que podemos vencer todos ou perder todos, independente do resultado”, afirmou.

CAMPANHA

A intenção inicial de Jatene era manter-se neutro, mas na reta final da campanha acabou sendo um dos personagens principais da propaganda. Criticou o tom áspero dos programas do “sim”, foi alvo de um programa inteiro das frentes separatistas que o acusaram de ser responsável por todos os problemas do Pará e acabou obtendo direito de resposta no horário da frente pró-carajás, o que acirrou ainda mais os ânimos na região contra o governador.

“Quem do sul do Pará ou de qualquer outra região não tem um parente ou amigo que viva na região de Belém e vai continuar aqui no dia seguinte ao plebiscito? Quantos dos que aqui moram não têm pessoas queridas vivendo em Marabá, Altamira e tantos outros municípios?”, lembrou Jatene, no horário eleitoral, conclamando os paraenses à união.

JORNAL

Jader Barbalho Filho diz que o papel do jornal tem sido de informar e esclarecer a sociedade sobre a questão separatista. “Não é a gente induzir. É dar as informações para que o eleitor faça seu julgamento e no pós, qualquer que seja o resultado, que a gente mantenha a serenidade e contribua para que as pessoas continuem convivendo em harmonia, que não caiam em qualquer tipo de incitação de pessoas que queiram se beneficiar com isso. Qualquer que seja o resultado, vamos ter que continuar convivendo ou como paraenses ou como brasileiros vizinhos”.

Para a prefeita de Santarém, Maria do Carmo Martins, em caso de vitória do “sim” a transição deverá ser tranquila, mas se confirmadas as pesquisas que indicam vitória do “não”, será necessária “a reconquista do povo do oeste”. “Não podemos de maneira alguma ser tratados como traidores. Estamos sonhando em poder tomar conta do nosso próprio destino. Isso é democrático e foi permitido legalmente”.

Para Maria, Jatene deverá ser o grande condutor desse processo de reunião do Estado. “Como prefeita, tenho me preocupado com o dia seguinte em caso de vitória do “não”. Acho que vai depender muito de como o governador vai se comportar. Ele é a liderança que vai conduzir esse processo”.

A prefeita afirma que não vê razão para que pessoas da região de Belém temam retaliações no oeste, mas diz que se preocupa com o tratamento que os paraenses das áreas emancipacionistas possam ter em Belém.
O que dizem os presidentes das frentes

O presidente da frente pela criação do Estado do Tapajós, deputado federal Lira Maia diz que uma derrota do “sim” não deve sepultar o movimento separatista. “O povo vai continuar lutando”.

Para o presidente da frente contra a criação do Tapajós, deputado estadual Celso Sabino (PR), o movimento será de “lamber as feridas” e costurar o Pará. “Vivemos um momento único com previsões de investimentos altos. O Pará tem toda a condição de se tornar um dos Estados mais desenvolvidos do País. Para isso, precisamos estar unidos para lutar, por exemplo, contra a lei Kandir (que desonerou as exportações). Vamos costurar isso com todos os parlamentares”.

RELAÇÕES

O presidente da frente pró-carajás, deputado estadual João Salame prevê dificuldades nas relações da região sul/sudeste com os municípios do entorno da capital e com Belém.

“Aqui ficou uma mágoa muito grande porque durante a campanha fomos chamados de forasteiros e de bandidos que queriam roubar as riquezas do Pará. Os políticos daqui eram tratados como oportunistas enquanto os de lá eram todos bonzinhos”.

Salame diz que já havia uma fissura entre as regiões que apenas ganhou um elemento novo e subjetivo com o tom da campanha. Para ele, juntar os cacos dessa relação “será uma tarefa difícil’. “O que conseguiria minimizar esses rancores subjetivos seria uma política de investimentos maciços na região, em caso da vitória do não”. Mas isso não ocorrerá porque o Estado está quebrado”.

O presidente da frente diz que caso o Estado se divida será preciso um esforço para se recompor politicamente para lutar pela criação dos novos Estados no Congresso. “Caso não vença, temos que tentar levar ações concretas para a região”.

O presidente da frente contra a criação do Estado de Carajás, deputado federal Zenaldo Coutinho diz que está convicto de que a vitória será do não. “Passado o dia 11, as bandeiras terão que ser outras. Vamos trabalhar a união, universalizar nossas ações com diversidade, mas sem animosidade”.
(Diário do Pará)

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